quarta-feira, 27 de maio de 2009

Você tem medo de que?



A pergunta era: do que você tem medo? Melhor reformular: do que não tem?

Medo de não amar, de não ser amada, de rejeição ou um dia ter que, finalmente, encarar de frente uma barata. De mudanças inesperadas, de perder minhas caixas cheias de cartas antigas, de ficar antiga, de ficar muito moderna e ridícula, de taxista chato que puxa assunto, de perdas emocionais, de ficar entupida de lembranças, de esquecer, de pular de para-quedas, de ficar paralizada, de olhar e não ver, de ver e agora? Medo de emburrecer, de separações, mesmo as desejadas, de chuva que estraga a chapinha, de tempestade que se anuncia, de gente chata, de gente medíocre, de criança muito esperta, de envelhecer. De ser pra sempre um vaso quebrado, de mentes perigosas, da minha. Da minha. Ah, daria pra parar de pensar? Dormindo? Não, acordada, dá pra parar de pensar tanto? Porque se penso muito, fico querendo encontrar um sentido e aí, as coisas ficam todas sem sentido e, sem sentido, eu morro de medo...

De avião, de morrer de morte súbita, de coisas não ditas que perderam a hora, de coisas ditas que não calaram, de ler a bula dos remédios, de não ler todos os livros que eu queria, de amores impossíveis. De tirar sangue, tomar injeção, tomar pé na bunda, fazer sofrer quem não merece, engordar, não saber quem eu sou. De saber e agora? Dá pra parar de rodar? Como um pião desgovernado, com medo de cessar de girar, cair e nada mais acontecer. E que acontece se não acontece nada?
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Acontece que não quero morrer de tédio, mas também quero jogar algumas fantasias fora. Se possível, todas. Quero ir embora, mas também quero ficar aqui. Aqui, onde fiz minhas próprias revoluções, sem queimar nenhum navio. Aqui, neste mesmo cais de porto. Acontece que eu quero segurança e adrenalina. Segurança e adrenalina.Segurançaeadrenalinasegurançaeadrenalinasegurançaeadrenalina. Medo de estar segura e viajar e ter adrenalina e puxar o freio de mão. Do que tenho medo? De partir meu coração. De não achar respostas pras perguntas inevitáveis. De não evitar as perguntas, de errar o caminho, de ficar muito cansada, de não aproveitar o trajeto, de árvores assustadoramente altas no meio do nada, de fila de espera de hospital, de perder o bonde, de errar o ponto do macarrão, de encher muito o copo e transbordar. E as vezes transborda. Ainda assim, não tenho medo de errar e fazer de novo, nem de ir fundo, trancando a respiração e subir à tona devagar. De gente que não se esconde, se inventa, se transforma e se perde e se encontra. Quinhentas vezes, se preciso. Não tenho medo do escuro, de ficar na contramão, de quebrar meu coração, contanto que isso me revele coisas essenciais sobre mim mesma. E sobre os outros. Não tenho medo de enlouquecer, nem desistir, quando acredito que não vai dar pé, nem de insistir quando tenho alguma fé.

Eu tenho medo de dar vexame, mas já dei alguns. De fazer papel de boba, mas já fiz, de me humilhar, mas já me humilhei. Eu já morri de amor, mas ressucitei.  Na prática, eu sou toda teoria.  Sou viagem, fantasia,  deserto do Saara, vez-em-quando algum Oasis, florzinha no cabelo, medo de ficar louca, faca afiada na língua, mel nos olhos, medo de alucinar, romance água com açucar, palavras, palavras, palavras. Livrai-me das esquinas escuras de mim, porque são elas que me amedrontam, mais do que tudo. Mas deixai-me com todas as ilusões, quero roçar minha boca nas bordas desse copo transbordante, deixai-me com a esperança verdinha, com toda poesia de amor, com toda a minha doçura e as minhas setencentas e cinqüenta mil frases de efeito, porque eu falo muito, mas não digo tudo. O essencial está guardado, quem tiver olhos de ver, verá, quem tiver ouvidos de ouvir, escutará. Mistério preservado, mesmo totalmente nua. Sem medo. E aprender que o verdadeiro streap acontece muito lentamente, dez minutos pra arrancar as meias, vinte minutos pra descobrir os seios, a vida inteira para ver meu coração. Com sorte.Abrir o coração, sem medo.



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