sábado, 2 de maio de 2009

Sejamos delicados

Ele veio me dizer que anda decepcionado com as amizades. Com as relações de hoje em dia, tão superficiais, tão substituíveis. Ele só tem vinte anos. Eu precisei chegar aos trinta para me dar conta de que os amigos que me acompanharam na escola, na faculdade, na formatura, no primeiro emprego, no casamento da fulana, na separação do sicrano, já não são os mesmos.Que eu não sou a mesma, embora me reconheça mais do que reconheço a eles, mas isso apenas porque convivo mais comigo. Amizades de longa-data, que já viram as primeiras rugas um no canto dos olhos dos outros não deveriam excluir nunca aquela gentileza do início. Mais se perde isso e põe-se no lugar o que alguns chamam simplesmente de "sinceridade". Eu, graças a Deus, nao sou dessa espécie de "a verdade-acima-de-tudo". Aprecio que ela venha em doses homeopáticas e seja servida como aquele remedinho de gosto horroroso que os pais dão às crianças, com aquele carinho extremo, fazendo aviãozinho com a colher até que ela chegue na boca.
E em nome da sinceridade entre amigos, ofende-se (sim, sempre em tom de piada), magoa-se, colocam o dedo naquela sua ferida há tanto tempo esperando cicatrização. Ah, meus bons e velhos amigos, quando foi que perdemos a doçura e porque foi mesmo? Ah quanto tempo apontamos nossos defeitos e não nos damos de presente uns aos outros, um elogio daqueles de ficar com vergonha porque está correndo o risco de uma lágrima desabar ali no cantinho dos olhos, uma festa-surpresa, um "que bom que você veio", fico feliz por você ter trepado loucamente esta noite toda". Devo estar nostálgica. Ou aqueles que têm amigos antigos e queridíiiiiiiiissimos há "enta" e poucos anos e bebem no mesmo copo a mesma cerveja, ou a mesma torta no chá da tarde, dirão que isso nao é amizade, e que sim, bota fé na humanidade garota, amizades profundas e insubstituíveis ainda tem lugar nesse lugar estranho e lindo que é nosso planeta. (embora às vezes tão mal freqüentado).
Eu sei, eu sei...Isso já foi amizade, ainda é. Só está parecendo a roseira mais descuidada do jardim, ninguém se lembra de regá-la, a começar por mim. Fica igualzinho aqueles casos de amor, tão promissores no inicio, tão cheios de "meu benzinho-amarei-te-eternamente." Cheio de palavrinhas antes e palavrões depois. Ele não elogia mais o vestido novo dela, ela não diz mais do imenso orgulho que dele sente. O sexo ainda é muito bom e os corações não se entendem, nem falam. Amizades são casos de amor. Alimentemo-nos uns aos outros, pois pode ser que a estrada já não seja a mesma, mas grande parte dela percorremos juntos. Reguemos as nossas flores, sejamos cuidadosamente delicados.

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