Aos treze anos mandei fazer meu mapa astral. Fiquei um mês esperando que ele chegasse pelo correio e paguei por ele uma grana considerável! Ele chegou encadernado em azul, enumerando minhas supostas qualidades e defeitos e fazendo uma previsãozinha básica sob os meus anos de vida dali pra frente. O que guardei foi: "está escrito que você amará uma única vez na vida". Como? Eu era caída de amores aos treze anos por um garoto da minha rua, Valdemir, apelido, Mi. E Mi não dava a mínima pro meu "amor". Talvez a frase se referisse a amor de verdade, desses descritos nos clássicos, desses que são eternos. Desses que quase não existem, ou que eu pelo menos, não conheço, nem de ouvir falar, infelizmente. Mas não sou uma alma cinza sem esperanças, não senhor! Creio que em alguns lugares do mundo, em algum tempo, talvez mesmo agora, existam amores assim e meu melhor sorriso nesse momento é para eles. No mais, acredito que duas pessoas se unam por inúmeras razoes, mas pouquíssimas, por amor.
Carência, tédio, curiosidade, paixão, talvez amizade, economia, medo da solidão. Tudo isso pode fazer parte do amor, mas em principio nada disso o é, pra mim. Amor é o que não se explica. Tanto que não vou fazê-lo. Pena que alguns acreditem na morte do amor, quando só as relações amorosas tem finais. Como Nelson Rodrigues na pele de "Myrna", eu acredito em amores eternos. Transformar esse amor em relação, com casa, filhos, geladeira, televisão, amigos e faze-lo durar nem sempre é possível, amores há que não cabem em uma relação. Mas sendo amor, mesmo terminada a relação ou a tentativa de relação, o que fica ainda assim, é amor. Esse amor inabalável e infinito, cheio de sorrisos e lágrimas que buscamos todos e que poucos de nós encontramos. Há um bocado de sorte nos guiando até esse encontro e talvez alguma fé. Quando penso nisso, um nome me vem a lembrança, e talvez nem seja esta a palavra adequada, já que "lembrança" remete a algo que ficou por algum tempo esquecido, e este nome, este, sempre esteve comigo. Se não na minha boca, na minha língua, na garganta, o quanto mais guardado, no coração.Quando me falam de amor, quando escuto uma música de amor, quando quero falar com argumentos sobre o amor, é esta a minha referência, um nome que antes era a minha oração diária.
Ele acredita que amores terminem e em seu lugar outros amores sejam colocados. E que não entende, passado tanto tempo, porque há um sentimento que ele não ousa chamar de amor, que continua presente. Brando e suave, roçando muito lentamente o coração, onde antes deixou sua marca, com força e paixão. Se me pergunta o que é isto que ficou, que faz com que às vezes, quando esbarramos pela vida, me olhe quase indiferente, tranqüilo e em outras sinta uma ternura que o quase faz chorar e vontade de pegar na minha mão, eu fico quieta, sem responder. Não vou dizer, "é o amor que ficou, o amor que lutamos pra caber numa relação, mas que não coube, mas que sempre vai estar aí", de uma outra forma. Ele se encheria daquele seu costumeiro olhar de desafio e perguntaria: Então porque não ficamos juntos?Não acredito que tenha sido por falta de amor, porque não sou dessas que acham que o amor a tudo e a todos vença e que ele triunfará em quaisquer circunstâncias, sob quaisquer hipóteses. Porque não basta amar. Moço,o amor está aí quando nos encontramos a sós, com o que fomos e o que somos. Pedaços da nossa história revisitados cada vez mais com sorrisos e risos e menos com mágoas, porque conseguimos curaá-las com o tempo e com esse nosso amor que ficou. Este amor que não esta mais em beijos e vida em comum, mas que está nítido numa carona pra casa, de madrugada, de mãos-dadas....
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