
Faz tempo que não temos mais 20 anos...
Estamos mesmo ficando velhos e ridículos como nos supõe os olhares de outros “ridículos-velhos-casais”? Você sabia meu querido companheiro, que se riem de nós, se acaso roças a mão mais demoradamente na minha, enquanto eu te passo o pires e a xícara na mesa do café da manhã? Já dobramos o Cabo da Boa Esperança e dizem que não nos ficam bem estes furtivos olhares, trocados ao longo do dia. E que é tolice irmos ao cinema ver um desses filmes proibidos aos menores de 18 anos, e comer pipoca e dar risadinhas, e voltar para casa só depois da meia-noite, andando pelas ruas de mãos-dadas.
Estamos mesmo ficando velhos e ridículos como nos supõe os olhares de outros “ridículos-velhos-casais”? Você sabia meu querido companheiro, que se riem de nós, se acaso roças a mão mais demoradamente na minha, enquanto eu te passo o pires e a xícara na mesa do café da manhã? Já dobramos o Cabo da Boa Esperança e dizem que não nos ficam bem estes furtivos olhares, trocados ao longo do dia. E que é tolice irmos ao cinema ver um desses filmes proibidos aos menores de 18 anos, e comer pipoca e dar risadinhas, e voltar para casa só depois da meia-noite, andando pelas ruas de mãos-dadas.
Ah, se eles soubessem (mas não sabem) que este meu andar desparelho não é só reumatismo, mas é que ando tão embriagada de vida que tropeço, ando e volto a tropeçar, sempre amparada por todos os sonhos que ainda posso realizar. E se soubessem ainda, que ao chegarmos em casa, acendemos todas as luzes, como se todos os lustres fossem candelabros em um luxuoso salão de bailes e ouvimos músicas antigas como se fosse o último rock das paradas de sucesso.
Se eles soubessem que ao nos despirmos enxergamos cada poro e cada vinco um no corpo do outro. E nos beijamos com nossas bocas murchas e o nosso beijo tem gosto de banana madura com dentes rangendo. Rangem nossos corpos, magros, range nossa cama, que não trocamos faz bem uns quinze anos. E nossos corações descontrolados lá dentro, já nem batem, rangem apenas.
E se eu te perguntar de repente, companheiro, se estou mesmo muito velha e muito feia e muito louca, tu me dirás sorrindo que não. Dirás que estou linda assim: cheia de sonhos, rugas e cabelos brancos. És o gentil e prometido cavaleiro com o cavalo branco das histórias encantadas que vieram antes de nós. No entanto, meu velho, sei que estarás mentindo pra mim, pois nossa verdade declarada é o amor que restou, apesar do tempo que gastamos.
E se tu me perguntares (embora não pergunte), eu te direi que sim, que sinto por ti o mesmo singular carinho dos tempos de outrora,mas saberás que estou mentindo também. Mudamos todos nós, os sentimentos, os caminhos e as veredas. O impressionante é continuarmos. E na mesa de um café da manhã qualquer, olharás rindo para mim, rindo de escancarar os dentes e dirás: “ Minha velha, faz tempo que não temos mais 20 anos...”
Minha Namorada (Vinícius de Moraes/ Carlos Lyra)
Se você quer ser minha namorada/Ai que linda namorada/Você poderia ser
Se quiser ser somente minha/Exatamente essa coisinha/Essa coisa toda minha/Que ninguém mais pode ser
Você tem que me fazer um juramento/ De só ter um pensamento/Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho/De falar devagarinho/ Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho/E chorar bem de mansinho/Sem ninguém saber porque
E se mais do que minha namorada/Você quer ser minha amada/Minha amada, mas amada pra valer/
Aquela amada pelo amor predestinada/Sem a qual a vida ‚ nada/Sem a qual se quer morrer/
Você tem que vir comigo/ Em meu caminho/ E talvez o meu caminho/Seja triste pra você
Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos/E os seus braços o meu ninho/No silêncio de depois
E você tem de ser a estrela derradeira/Minha amiga e companheira/No infinito de nós dois
A poesia da vida, de ficarmos velhos e ver o tpo passar participando.
ResponderExcluirEu, no entanto, quero morrer aos 60.