Uma noite dessas fui ao encontro de um menino adorável em seus recém completados vinte anos, que estava precisando muito desabafar com alguém. Havia finalmente cedido aos apelos de uma fotógrafa que lhe convenceu ser bonito, fez um "book" gratuitamente e apostou que ele chega até Milão. Eu aposto também. Ele tem um rosto lindo e uma boca dessas que se você vê sabe que é extremamente beijável. Pois ele estava se sentindo ridículo por ter estado lá, "não-sei-quantas-horas" a mudar de roupa "não-sei-quantas-vezes" e a fazer caras e bocas. E na inocência dos vinte anos acha que está a atraiçoar os ideais em que acredita. Ele tem uma banda que só toca Beatles, ele ama Beatles, eu amo Beatles, só que nunca tive porra de ideal nenhum. O que eu iria dizer ao garoto?
Eu queria ter nascido linda. Linda de doer. Linda como ele, num dia de verão na praia, com seus óculos escuros e os cabelos desgrenhados. Tão lindo que não resisti e corri para beijá-lo. Linda pra poder andar na rua desarrumada, como ele, com calça jeans surrada e camiseta furada com a estampa do MST. Linda pra somente piscar e um exército inteiro perder a guerra. E não precisar dizer frases espirituosas. Tão linda que ninguém se importasse se numa conversa D.J Sallinger fosse citado e eu retrucasse: "quem?". Está bem, assim fica parecendo que eu sou dessas feias que acham que toda linda é burra. Eu não acho, assim como não acho que toda feia seja inteligente, assim como não me acho feia nem inteligente, assim como é coincidência que só neste momento eu não consiga achar o nome de uma linda-inteligente...ahahhahaha. Se alguém lembrar de Clarice Lispector agora, arrasa minha crônica! Posso estar atravessando o meu samba até, mas só quero dizer que se me fosse dada a oportunidade de escolher (e a vida não é feita de escolhas caros existencialistas?) entre ser linda e burra ou feia e inteligente, se só houvessem essas duas dolorosas opções, sem meios-termos e mais nenhuma, eu escolheria a primeira. Linda, burra e com uma boa e grande de uma bunda, já que nasci no país em que ela reina absoluta. E eu ia felizinha lá para o "Big Brother" metida em biquinhos cavados, sim senhor! Não me diga que estou atraiçoando meus ideais, porque eu já disse que nunca tive um, não que eu me lembre agora. Quem quer ser inteligente num país onde pagam 300 mil pra gente mostrar apenas a nossa bundinha na revista? Não fica mal por ser bonito demais não, meu lindo, até a tua hesitação é bonita. Antes de ir, canta "All you need is love" pra gente, com teu visual mais escrachado. Se não te clicarem, eu te clico. Se teu destino enfim, não for Milão, ruma direto aqui, pro meu coração.
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